terça-feira, 22 de agosto de 2017

sábado, 17 de dezembro de 2011

DATA...

O fato é que em 17 de dezembro tudo poderia ter tomado um outro caminho... e a poesia poderia ter uma outra escrita...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

NO CEMITÉRIO

Hoje vi tanta gente morta... muitos mesmo... alguns jovens demais pra se entender, outros, velhos demais pra se acreditar porque mereceram viver...
Vi casais enterrados, juntos... filhos, irmãos... imaginei suas histórias cujo único rastro concreto fora deixado nas suas lápides. 
Imaginei lembranças... suas dores. Questionei quantos ali morreram se amando e quantos morreram sozinhos, sem esperança de novamente amar.
Constatei que conheci algumas pessoas egoístas, afinal... duas de suas lápides existiam por puro e completo egocentrismo - morreram de tanto amar! A dor doce de morrer de amor... que lindo merecer tal entrega...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

AINDA SOBRE OS DRAGÕES...

Baudelairiana ao extremo, vivo a identificar suas percepções no meu tempo. Recentemente (e, com certo embaraço digo 'recentemente') pude assistir a um não-lançamento de Johnny Depp, From Hell (Do inferno). É mais uma versão sobre Jack, the Ripper - obscura, nas vielas úmidas e extremamente clara, na pele das prostitutas assassinadas. O sangue faz o papel principal - tanto sobre o negro quanto sobre o pálido... bom, o fato é que Sir William Gull, personagem do maravilhoso Ian Holm, pergunta ao detetive-anti-heroi-ópio-absinto-adito: "Há quanto tempo cai nos braços do Dragão?". De novo, o Dragão, a psicodelia, o amorfinar, Baudelaire, os malditos... ah... essa trupe me persegue num mundo tecnologicamente insano que não mais permite divagações tão finisseculares... 
Não posso reclamar do Dragão... ele me fez o que sou, o que não sou, ele me deu medos, coragens, me mostrou o monstro dentro do armário e depois me disse: "Este sou eu, e tu também estás ali..."
Ele me faz gritar de horror, pedir abrigo sob rochas protetoras... mas também me faz sentir segura só vestida em minha própria pele. 
Preciso sempre encontrar o Dragão pra poder me encontrar também. Assim como o personagem de Johnny Depp encontra no ópio a porta que abre para a sua dualidade dolorosamente necessária, sua essência que não pode (sobremaneira) ser vista por outrem, mas não pode passar despercebida por ele mesmo... assim como ele, eu necessito desse doppelganger mitológico criado a minha imagem e semelhança...
Por isso trago o Dragão todos os dias comigo, marco meu corpo com ele pra que saiba que sempre vou dançar nossa música estranha... porque nunca, por coisa melhor que me transforme, nunca, jamais, vou negá-lo!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

"GUENTA CHICO MAYDANA" (GRUPO SOM BRASIL)


Eu sou filha do Chico Maydana. Nunca me pareceu muito importante isso quando era menina mas hoje essa consciência do Chico chega pra mim com tudo...
Deixa eu contar quem era Chico Maydana. Digo isso agora porque  há bem pouco descobri quem ele era, de fato. O Chico era um boêmio e um grande homem. Olha, que difícil! Ser um boêmio e um grande homem! Homem da noite, tocador de violão, compromissado com os grupos musicais dos quais participou, vida dura de estivador (quando não se dispunha de tanto maquinário pra facilitar o trampo), vida de marido e pai. Já imaginou? Conciliar o cansaço físico, a putaria ofertada na noite, a mente de um poeta, o coração sempre apaixonado pela minha mãe, a paciência com quatro filhos vivos, a dor de um filho morto? Chico Maydana era algo, penso eu (hoje).
Altas horas da noite, meu pai tocava no escuro. A porta da frente aberta, luz da lua no rosto e no violão, expressão de um Beethoven que não tem mais ouvidos pras coisas desse mundo... Abria os olhos, confuso com minha presença menina e, sempre áspero, sempre ríspido no seu jeito de me amar: “Vai dormir, guria”. Eu ia. O tom não era pra lançar dúvidas... ia mas ficava pensando, incrédula, na insistência dele pelo noturno...
Hoje, herança “bem-mal-dita”?, insisto igualmente no noturno. Variações sobre o mesmo tema... como nossos pais... etc. Sou mais ele hoje do que a menina que interrompia seu devaneio naquelas longas noites enluarado-mosquitosas de verão...
Chico sobrou em lápide para os que o conheceram. Para os que o entenderam, embora tardiamente como eu, ele reacende no brilho – violão na noite, semblante contra-luar, jeito de quem está em sintonia com o desconhecido universo... o gratificante é saber que as linhas do tempo nos cruzaram! Tão breve mas, tão intensamente!

domingo, 6 de novembro de 2011

MEIAS VERDADES... MEIAS MENTIRAS...


Memorável a passagem, embora o nome do filme me escape... após 50 e tantos anos de casamento, a mulher, querendo finalmente ser total para o seu homem, confessa tê-lo traído com um amigo dele quando eram jovens e recém casados... após um segundo da mais pura amargura e confusão, o homem diz algo como isso: "Aprecio a sua honestidade agora... o problema é que faz a verdade que antes tínhamos parecer uma completa mentira"...
Ups and downs... onde está a verdade da mentira e a mentira da verdade? Se quer saber, ou já não importa?
Como é insondável o mistério das ações humanas... já nem menciono os pensamentos! Hoje (como ontem?) já não se conhece as pessoas pelo tempo. As surpresas são pregadas impiedosamente... fazendo do tempo uma coisa qualquer, irrelevante, inconsistente.
Eu costumava ser o tipo de mulher que contava com o tempo para entender as pessoas.
Agora sei que o tempo não tem papel algum nessa função de conhecimento.
Só resta lamentar o meu terrível engano!
Tem coisas que a vida ensina pra gente, a gente aprende, mas a ignorância de antes parece ser uma benção...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

SOBRE A CANÇÃO DA MEIA NOITE

"Quando a meia noite me encontrar, junto a você
algo diferente vou sentir, vou precisar me esconder
na sombra da lua cheia, esse medo de ser
um vampiro, um lobisomem, um saci pererê..."

Dona senhora
Meia-noite eu canto
Essa canção anormal

Dona senhora
Essa lua cheia
Meu corpo treme
O que será de mim?
Que faço força
Pra resistir a toda essa tentação
Na sombra da lua cheia
Esse medo de ser
Um vampiro, um lobisomem, um saci pererê" (Canção da
meia noite, Zé Flávio)

O encontro com a meia noite está bem mais desprovido de glamour vampiresco do que se deseja. Dá-se numa olhadela no espelho, após copos de desespero, onde a constatação da presença do estranho que nos retribui o olhar é lúcida.
Essa presença (tão ilustre) pode ser perturbada pelo insistente bater à porta de um banheiro de bar. Uma vez perdido o contato, só resta a tonteira, o ímpeto do vômito, a pergunta ecoante: "o que faço aqui?
Cada um carrega no mínimo dois. Isso é ter sorte. Azar é abrir a manga e ver caírem pilhas de coringas, todos sendo verdadeiros eus e, simultaneamente, tão falsos quanto os primeiros de abril.
Depois de 20, 30, 40 anos de existência, ainda dá pra sentir esse medo de ser um vampiro, um lobisomem, um saci pererê. Aos 20, o pensamento é que a natureza vai firmar-se aos 30; aos 30, estende-se o prazo aos 40; aos 40, a busca mostra-se sem resposta... e quem sabe deva permanecer assim até que habitemos o Hades... até lá, continuemos cantando nossa "canção anormal"...