terça-feira, 15 de novembro de 2011

"GUENTA CHICO MAYDANA" (GRUPO SOM BRASIL)


Eu sou filha do Chico Maydana. Nunca me pareceu muito importante isso quando era menina mas hoje essa consciência do Chico chega pra mim com tudo...
Deixa eu contar quem era Chico Maydana. Digo isso agora porque  há bem pouco descobri quem ele era, de fato. O Chico era um boêmio e um grande homem. Olha, que difícil! Ser um boêmio e um grande homem! Homem da noite, tocador de violão, compromissado com os grupos musicais dos quais participou, vida dura de estivador (quando não se dispunha de tanto maquinário pra facilitar o trampo), vida de marido e pai. Já imaginou? Conciliar o cansaço físico, a putaria ofertada na noite, a mente de um poeta, o coração sempre apaixonado pela minha mãe, a paciência com quatro filhos vivos, a dor de um filho morto? Chico Maydana era algo, penso eu (hoje).
Altas horas da noite, meu pai tocava no escuro. A porta da frente aberta, luz da lua no rosto e no violão, expressão de um Beethoven que não tem mais ouvidos pras coisas desse mundo... Abria os olhos, confuso com minha presença menina e, sempre áspero, sempre ríspido no seu jeito de me amar: “Vai dormir, guria”. Eu ia. O tom não era pra lançar dúvidas... ia mas ficava pensando, incrédula, na insistência dele pelo noturno...
Hoje, herança “bem-mal-dita”?, insisto igualmente no noturno. Variações sobre o mesmo tema... como nossos pais... etc. Sou mais ele hoje do que a menina que interrompia seu devaneio naquelas longas noites enluarado-mosquitosas de verão...
Chico sobrou em lápide para os que o conheceram. Para os que o entenderam, embora tardiamente como eu, ele reacende no brilho – violão na noite, semblante contra-luar, jeito de quem está em sintonia com o desconhecido universo... o gratificante é saber que as linhas do tempo nos cruzaram! Tão breve mas, tão intensamente!

Um comentário:

dejoparajo disse...

chico, amou sem saber dizer eu te amo, sofreu sem precisar de lagrimas para expressar sua dor, sonhou sem que nunca soubessemos qual era seu sonho. morreu porque não tinha motivos para continuar. cumpriu seus compromissos aqui, partiu deixando muita saudade. Meu pai, meu amigo,esteja em paz.