quarta-feira, 2 de novembro de 2011

SOBRE A CANÇÃO DA MEIA NOITE

"Quando a meia noite me encontrar, junto a você
algo diferente vou sentir, vou precisar me esconder
na sombra da lua cheia, esse medo de ser
um vampiro, um lobisomem, um saci pererê..."

Dona senhora
Meia-noite eu canto
Essa canção anormal

Dona senhora
Essa lua cheia
Meu corpo treme
O que será de mim?
Que faço força
Pra resistir a toda essa tentação
Na sombra da lua cheia
Esse medo de ser
Um vampiro, um lobisomem, um saci pererê" (Canção da
meia noite, Zé Flávio)

O encontro com a meia noite está bem mais desprovido de glamour vampiresco do que se deseja. Dá-se numa olhadela no espelho, após copos de desespero, onde a constatação da presença do estranho que nos retribui o olhar é lúcida.
Essa presença (tão ilustre) pode ser perturbada pelo insistente bater à porta de um banheiro de bar. Uma vez perdido o contato, só resta a tonteira, o ímpeto do vômito, a pergunta ecoante: "o que faço aqui?
Cada um carrega no mínimo dois. Isso é ter sorte. Azar é abrir a manga e ver caírem pilhas de coringas, todos sendo verdadeiros eus e, simultaneamente, tão falsos quanto os primeiros de abril.
Depois de 20, 30, 40 anos de existência, ainda dá pra sentir esse medo de ser um vampiro, um lobisomem, um saci pererê. Aos 20, o pensamento é que a natureza vai firmar-se aos 30; aos 30, estende-se o prazo aos 40; aos 40, a busca mostra-se sem resposta... e quem sabe deva permanecer assim até que habitemos o Hades... até lá, continuemos cantando nossa "canção anormal"...

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